A minha despedida de José Mário Branco



Eu sei que hoje é o dia de partilhar a Queixa, a Inquietação, ou mesmo o FMI.
Partilho o início da Canção dos Despedidos:
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Somos explorados no trabalho, e não só
Também somos o lixo
Lixo na tê-vê, quem lá está e quem vê
Lixo no jornal, voz do seu capital
Estamos entregues aos bichos
E o lixo produz mais lixo
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A canção, de 2004, integra o disco Canções Escolhidas, de 2018, que - parece-me - José Mário Branco quis que fosse o seu testamento. Estão lá as mais conhecidas e uns dois ou três murros no estômago, como este. Para as novas e para as futuras gerações.
Só há um José Mário Branco, Que vai dos fabulosos discos do Zeca ao renascimento do fado com Camané. E que queria um mundo novo e bom a cada canção. Um José Mário Branco inteiro, único, radical.
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Lembro aquele fim de tarde de 6 de junho de 2018, na Fnac do Chiado, para apresentar Inéditos 1967-1999, em conversa com Nuno Pacheco.
Uma hora e tal de uma tremenda lição de música e política e vida. Um nó na garganta pela sensação de que aquela era apenas mais uma peça de uma tournée de despedida - a reedição integral dos discos, o disco de inéditos, a colectânea das Canções Escolhidas, entrevistas de vida, como de costume, sem rodeios, com a sinceridade toda do mundo. Partir em paz, missão cumprida. Não desistam, porra.
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Guardo apertados os abraços em letra linda, linda, desse 6 de junho.



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