fui alertado pelas redes sociais para um texto do el mundo acerca de 'ne me quitte pas', de jacques brel.
a 'notícia' - digamos assim - não tem uma vírgula de novidade, mas isso nem é o mais relevante.
choca-me, e meço as palavras, o timbre moralista, mesmo serôdio, do texto. e também aquele tom de revelação, do estilo, "a mais bela canção de amor de sempre é, afinal, baseada em factos reais e os factos reais nem sempre são bonitos de se ver".
bananas... todas, TODAS, as canções de brel são autobiográficas. e, obviamente, nenhuma autobiografia sincera é cor-de-rosa.
em suma, um texto lamentável (o facto de ter sido replicado pelas redes sociais é secundário - as redes sociais replicam tudo, de forma tão célere quanto acéfala).
há sentimentos, percepções, ideias, que vamos construindo ao longo de anos e que só acontecimentos fortuitos, um poema, um parágrafo de filosofia, um acaso conseguem materializar, dar sentido, trazer à luz do dia.
aconteceu-me agora com zuenir ventura, no livro 'inveja, mal secreto', da colecção da editora objectiva, já com alguns anos, dedicada aos sete pecados capitais.
"o verdadeiro amigo não é o que é solidário na desgraça, mas o que suporta o seu sucesso" - coloca o autor na boca de um dos personagens.
claro que falamos aqui da inveja e do modo, ou desmodo, como cada um lida com ela.
mas a ideia - é isso que há muitos anos pressentia sem conseguir verbalizar - pode ser aplicada a territórios bem mais vastos: é nos momentos bons, de alegria e felicidade, e não nos dias maus e de desgraça, que conhecemos os nossos amigos, os verdadeiros amores, o simples ser humano que connosco se cruza.
porque partilhar a tristeza, confortar a melancolia, chorar em colectivo é a coisa mais fácil do mundo. arranjar forças para enfrentar a dor - por mais paradoxal que possa parecer - é bem mais simples do que participar na construção da felicidade, partilhar o sucesso ou simplesmente ficar alegre com a alegria dos outros.
[já agora, alguns conceitos coligidos por zuenir ventura nesta investigação ficcionada: "ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha".]
aconteceu-me agora com zuenir ventura, no livro 'inveja, mal secreto', da colecção da editora objectiva, já com alguns anos, dedicada aos sete pecados capitais.
"o verdadeiro amigo não é o que é solidário na desgraça, mas o que suporta o seu sucesso" - coloca o autor na boca de um dos personagens.
claro que falamos aqui da inveja e do modo, ou desmodo, como cada um lida com ela.
mas a ideia - é isso que há muitos anos pressentia sem conseguir verbalizar - pode ser aplicada a territórios bem mais vastos: é nos momentos bons, de alegria e felicidade, e não nos dias maus e de desgraça, que conhecemos os nossos amigos, os verdadeiros amores, o simples ser humano que connosco se cruza.
porque partilhar a tristeza, confortar a melancolia, chorar em colectivo é a coisa mais fácil do mundo. arranjar forças para enfrentar a dor - por mais paradoxal que possa parecer - é bem mais simples do que participar na construção da felicidade, partilhar o sucesso ou simplesmente ficar alegre com a alegria dos outros.
[já agora, alguns conceitos coligidos por zuenir ventura nesta investigação ficcionada: "ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha".]
imaginar como será a luz da vela quando está apagada
sobre o trágico ocaso de Adolfo Suárez, os textos belíssimos de Juan Cruz, escritor e jornalista do El País.
tinham uma relação assimétrica.
ela dava-lhe a ouvir a canção preferida de dylan e dizia-lhe que era assim mesmo, também com eles, "i want you so bad".
era a sua pequena armadilha secreta. ela conhecia dylan de trás para a frente e adivinhava-lhe o cinismo naquele verso. ouvia claramente uma vírgula, talvez um ponto final, entre o "i want you" e o "so bad". divertia-se com a ideia. um amor refém do cinismo, pensava ela.
até que um dia ouviu a raríssima versão de springsteen e decidiu que não havia vírgula alguma, qual ponto final!?
ele, do canto do sofá, percebeu-lhe a surpresa no olhar e esboçou um leve sorriso que ela não viu. conhecia-lhe os jogos mentais e sempre soube o que ela ouvia na canção. perdoava-lhe tudo. não que acreditasse especialmente no amor ou no velho dylan. ele conhecia era o springsteen de trás para a frente.
ela dava-lhe a ouvir a canção preferida de dylan e dizia-lhe que era assim mesmo, também com eles, "i want you so bad".
era a sua pequena armadilha secreta. ela conhecia dylan de trás para a frente e adivinhava-lhe o cinismo naquele verso. ouvia claramente uma vírgula, talvez um ponto final, entre o "i want you" e o "so bad". divertia-se com a ideia. um amor refém do cinismo, pensava ela.
até que um dia ouviu a raríssima versão de springsteen e decidiu que não havia vírgula alguma, qual ponto final!?
ele, do canto do sofá, percebeu-lhe a surpresa no olhar e esboçou um leve sorriso que ela não viu. conhecia-lhe os jogos mentais e sempre soube o que ela ouvia na canção. perdoava-lhe tudo. não que acreditasse especialmente no amor ou no velho dylan. ele conhecia era o springsteen de trás para a frente.
i've heard there was a secret chord
that david played, and it pleased the lord
but you don't really care for music, do you?
it goes like this
the fourth, the fifth
the minor fall, the major lift
the baffled king composing hallelujah
my husband's stupid record collection
that david played, and it pleased the lord
but you don't really care for music, do you?
it goes like this
the fourth, the fifth
the minor fall, the major lift
the baffled king composing hallelujah
my husband's stupid record collection
tornámo-nos animais científicos, quase-cyborgs. viajamos no google street view antes de viajarmos. temos aparelhos que nos fatiam o corpos em busca da micro doença que nos tece a morte. estabelecemos modelos de gestão que garantem a sobrevivência, o lucro, a felicidade. tornámo-nos omniscientes, todos-poderosos. deuses.
e depois há um dia em que toneladas de ferro com centenas de pessoas a bordo desaparecem no céu sem deixar rasto, à vista de toda a gente, e regressamos brutalmente à nossa condição humana. ficamos sem bússola.
e é isso que torna a vida maravilhosa.
e depois há um dia em que toneladas de ferro com centenas de pessoas a bordo desaparecem no céu sem deixar rasto, à vista de toda a gente, e regressamos brutalmente à nossa condição humana. ficamos sem bússola.
e é isso que torna a vida maravilhosa.
I am still struggling to understand how my lover and best friend could end her life in this tragic way.
We spent many wonderful years together and had made a great life for ourselves.
How do you build a relationship with music? How do you find your way to those songs that draw you in and—like Eddie Floyd and Mavis Staples said in a song I heard just yesterday on a randomly shuffled playlist—never never let you go?
ata-me (almodovar feat. cohen)
your faith was strong, but you needed proof
you saw her bathing on the roof
her beauty and the moonlight overthrew you
she tied you
to a kitchen chair
she broke your throne, and she cut your hair
and from your lips she drew the hallelujah
De acordo com o professor Schianberg (op. cit.), não é possível determinar o momento exato em que uma pessoa se apaixona. Se fosse, ele afirma, bastaria um termômetro para comprovar sua teoria de que, nesse momento, a temperatura corporal se eleva vários graus. Uma febre, nossa única seqüela divina.
Marçal Aquino, Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios
nascemos, presumo, cobertos de uma fina camada de gelo e a nossa missão na vida é livrarmo-nos dela. para tal, bastaria que mantivéssemos uma temperatura interior razoável, uns suaves raios de sol. mas o gelo é traiçoeiro, solidifica, cresce, ocupa tudo, corta-nos a relação com o mundo. os mais distraídos chegamos a precisar que venha alguém de fora, de picareta em punho, estilhaçar essa face reluzente em que se transforma a nossa pele.
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