tinham uma relação assimétrica.
ela dava-lhe a ouvir a canção preferida de dylan e dizia-lhe que era assim mesmo, também com eles, "i want you so bad".
era a sua pequena armadilha secreta. ela conhecia dylan de trás para a frente e adivinhava-lhe o cinismo naquele verso. ouvia claramente uma vírgula, talvez um ponto final, entre o "i want you" e o "so bad". divertia-se com a ideia. um amor refém do cinismo, pensava ela.
até que um dia ouviu a raríssima versão de springsteen e decidiu que não havia vírgula alguma, qual ponto final!?
ele, do canto do sofá, percebeu-lhe a surpresa no olhar e esboçou um leve sorriso que ela não viu. conhecia-lhe os jogos mentais e sempre soube o que ela ouvia na canção. perdoava-lhe tudo. não que acreditasse especialmente no amor ou no velho dylan. ele conhecia era o springsteen de trás para a frente.

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