hoje foi a Doutora do primeiro direito.
sei que se chama Doutora, de nome próprio, porque nas reuniões do condomínio as mulheres são tratadas pelo nome próprio, dona Ção, e os homenes pelo apelido, senhor Marques.
abre-se a porta do elevador e lá está a Doutora do primeiro direito.
explico: estaciono na garagem e páro no rés-do-chão para espreitar a caixa do correio, mesmo sabendo que a dona Doutora ou a mulher do taxista vão lá estar e vão sacar-me o elevador nos breves instantes em que rodo a chave do correio.
isso já era qualquer coisa, mas o pior mesmo é a má educação da Doutora, da mulher do taxista e de mais dois ou três. o senhor Marques e o surfista do quarto esquerdo são excepções, diga-se.
abre-se a porta do elevador e lá está a Doutora, especada. "boa tarde", atiro, sonora e firmemente. topo esta gente há anos suficientes para não deixar escapar a oportunidade. houve uma altura em que baixei o tom do cumprimento, para não agredir, pensava eu. agora, atiro com projeção de voz e intencionalidade visual.
nada. a Doutora não mexe um músculo do rosto e, como sempre, avança sobre a porta do elevador que se abre, ainda bem que sou ágil e tenho tempo de me desviar.
é sempre assim, com a Doutora, a mulher do taxista e mais dois ou três. ao meu bom dia, boa noite, de gentileza, respondem com um rosto, nem sequer fechado, mas de total indiferença, como se fosse transparente.
tenho a auto-confiança suficiente para perceber que não é nada comigo, que não lhes devo dinheiro, nem lhes lancei qualquer mau olhado, presumo.
é apenas falta de educação, mau génio, gente má. o meu prédio, onze apartamentos aconchegados no labirinto da cidade, é uma amostra do mundo.

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