estariam a bater bolas sobre os óscares, perdão, oscares, visto que é a noite deles.
estava um pouco a leste, concentrado no tamboril com pimentos que borbulhava no fogão, e só fui a tempo de perceber que era um rapaz de barbas, o que, eu sei, não quer dizer absolutamente nada, visto que rapazes de barbas no cinema são quase todos, sendo que a única excepção que interessa é o joão lopes.
mas disse ele: "espero que isso não aconteça, ainda para mais no cinema, uma indústria em crise".
finjamos que a outrora sétima arte é agora uma indústria. nem vou por aí. o que me fez tlim-tlim foi a palavra crise.
até o cinema, vejam bem, em crise. uma arte, perdão, uma indústria que movimenta milhões, nem tanto em euros, estava mais a pensar em cifrões.
nem o cinema escapa ao jargão da crise. está tudo em crise. a indústria automóvel e a instituição do casamento. os anéis de coral e, talvez, os anéis de saturno. as nações unidas, pré-guterres, bem entendido, e a confiança dos consumidores.
não há nada que não esteja em crise, nem talvez a língua portuguesa, se aquela dupla negativa quiser dizer aquilo que penso que queria dizer.
a crise tornou-se a bengala de todas as conversas. substitui, com ganho, o pigarrear de qualquer conversa. em vez de afinar a voz, ou a aparelhagem de som, com o tradicional um, dois, três, experiência, basta dizer olhem só a crise em que estamos.
a crise, verdeiramente a que interessa, é a económica, embora a da meia idade também faça mossa.
mas a crise económica, tenho andado a magicar, tornou-se significado de situação económica. ou seja, o estado normal da economia deixou ser um estado normal e passou a ser um estado de crise. a crise é, portanto, normal. ou é normal estarmos em crise.
agora, fosse economista, poderia escrever um tratado sobre isso mesmo, a ideia de que a crise económica é a normalidade da economia. ou seja, que é terrivelmente século XX a ideia de que a economia é um porco de engorda e que tem de estar a crescer.
uma utopia: o bem estar sustentado numa economia flat, que não precisa de crescer para alimentar a máquina e para nos alimentar a nós.
claro, fosse eu economista. ou não tivesse o tamboril à espera.

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