uma das cenas mais divertidas do livro é quando o sujeitinho se cruza com o outro e o outro lhe vira a cara. também estive lá. tinhamos os nossos nomes marcados para a mesma mesa - o raio do metier... - e fiz aquele gesto de cortesia de quem se prepara para cumprimentar. virou-me a cara e, ao contrário dele, nem sequer me surpreendi. acabámos em mesas separadas.
a cena repetir-se-ia uns meses depois, no lançamento de um livro e numa altura em que era suposto eu estar ferido de morte. o livro era sobre isso mesmo, aliás. o sujeitinho estava encostado a uma coluna e fiz questão de o olhar nos olhos. como quem diz: ganhaste e, vê lá, cumprimento-te como quem reconhece a derrota. o sujeitinho camaleonou-se e fundiu-se com a coluna, fingindo não me ver.
sou péssimo observador, concluo hoje. não reparei então que quem estava ferido de morte, e acossado, era ele.