a sara faz anos no mesmo dia da minha filha e durante muitos anos a lília ligava a dar-'nos' os parabéns.

às vezes, ouvia a lília ao telefone: 'já não me está a ouvir, pois não?' eu era editor de política e a lília jornalista na madeira, cercada por jardim e mar - o que ela gostava de dizer que não era da ilha e que toda aquela água às vezes cansava. precisava de quem ouvisse os seus desabafos, só que a coisa podia prolongar-se por horas... mas também nisso ela nunca desistia. deixava de a ouvir nesse dia, a conversa continuava logo a seguir.

num dia (domingo? de que ano?), a lília ligou-me com aquela excitação serena na voz de quem tinha uma notícia: 'tenho uma notícia'. mas não podia ser ela a escrever, para não queimar a fonte. e foi assim que, com a minha assinatura, o dn foi o primeiro jornal a noticiar o futuro nascimento do bloco de esquerda. a fonte - hoje já se pode dizer - era um dirigente da udp/madeira.

anos mais tarde, encontrámo-nos em lisboa. a lília gostava de vir, penso que para arejar do sufoco da ilha e do jardim. e tinha em lisboa um grupo com quem jantava, no qual - o destino tem destas... - participava a pessoa com quem eu na altura trabalhava.

um dia ligou-me a chorar: 'morreu o filho do...'. e foi por ela, no funchal, que soube da morte do filho de um amigo comum, em lisboa.

a desilusão (a incompreensão...) pelo que se passava no jornalismo era tema obrigatório nas nossas conversas nos últimos e largos tempos. o seu despedimento do dn, há poucos anos, foi um acto simplesmente estúpido.

a última vez que falámos foi há uns dois meses, agora já ambos nas nossas funções do outro lado do jornalismo. não me disse que estava doente - parece que não disse a ninguém - e devemos ter falado, pela enésima vez, do 'pode ser que seja agora que nos encontremos no funchal'...

do que mais vou ter saudades é daqueles olhos grandes e meigos e do sorriso desarmante.

Sem comentários :

Enviar um comentário