já fiquei desempregado mais do que uma vez.
não porque quisesse mudar de projecto, simplesmente porque os idiotas que me despediram não faziam a mínima ideia que projecto seguir com o dinheiro que manifestamente tinham a mais.
provavelmente, por ter passado por situações dessas sou muito sensível ao que se vai dizendo sobre o desemprego.

o texto de laurinda alves no observador é lamentável e ofensivo para a quase totalidade dos que estão ou já estiveram no desemprego.
o universo de análise de laurinda é particularmente estreito - os seus alunos da católica, como ela própria confessa.
arrisco ajudá-la e aumentar-lhe o universo: talvez inclua também alguns daqueles católicos que vêem na caridadezinha (foi vê-los a movimentar-se, nos últimos dias, para 'acolher' refugiados... haja quem pague) apenas mais um atalho para ficarem sentados em qualquer poltrona celestial.

também eu, pela formação que tenho e pelo tipo de trabalho que desenvolvo, já tentei fazer passar a ideia de que estava apenas à procura de um novo projecto. isso dá-me um certo, embora ilusório e temporário, conforto e, é verdade, funciona parcialmente como marketing pessoal na procura de trabalho.
mas isso, insisto, é no círculo muito estreito de algumas profissões liberais e em contexto cultural específico. vão lá falar em projectos aos milhares que se apinham nos centros de emprego (mas que raio de ideia, esta de as pessoas serem obrigadas a ter projecto. não podem apenas querer viver e ser felizes?).

para a maioria das pessoas, para a quase totalidade das pessoas, desemprego é mesmo desemprego. é não saber se no dia seguinte ainda vão ter dinheiro para dar de comer aos filhos e se no mês a seguir ainda conseguem pagar a casa. pior: é verem todas as portas fecharem-se, independentemente da qualificação, da coragem de arriscar, da vontade de trabalhar. sim, mesmo e especialmente quando até têm um projecto.

1 comentário :

  1. ela que vá ao banco onde contraiu (duvido) empréstimo para comprar a casa dizer que está entre projectos para ver se eles acham isso melhor do que estar desempregado

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