morreu um poeta e o mundo (enfim, o meu mundo, ou melhor, uma parte do meu mundo...) divide-se entre os que correm a publicar no facebook o primeiro poema que encontram online e os que desatam a rir: olha, olha, aposto que este nunca leu um livro de poesia.
sou pouco sensível, cada vez menos sensível, a estes modismos. a gente arrebatada por filmes, exaltada por um músico, a rasgar as vestes por ou contra a poesia.
gosto do que gosto. do que gosto de gostar. do que me dá prazer, e às vezes - demasiadas, acho - do que me faz pensar e, por vezes, sofrer. mas gosto de forma despreocupada.
nos últimos anos, tenho lido mais clássicos que a conta, não porque seja moda (é?), ou para cumprir qualquer calendário de instrução pessoal. na poesia, ainda sou mais errático. há uns meses, tropecei no manuel antónio pina e apaixonei-me, como nas paixões a sério, assim, sem motivo ou causa aparente. nunca tinha reparado no pina, gostei, li tudo. fiquei a gostar, mas pronto, não aderi a qualquer pinismo militante. mais ou menos na mesma altura, comprei o 'servidão humana' que li como se tivesse acabado de ser escrito, porque para mim tinha sido.
às vezes, passo ao lado de grandes filmes no cinema, não por pedantismo, simplesmente por distracção, e acabo por vê-los na televisão ou no computador quando já ninguém fala deles.
na música, a que dedico mais tempo, cérebro e alma que a outros amores que talvez merecessem mais, é a mesma coisa. há uns meses, andei a ouvir umas canções do sinatra que o dylan acabara de gravar (sou sensível a mitos, nota-se), mas quando chegou o disco do dylan, do qual apenas conhecia duas canções, ficou em cima da mesa uns dias à espera que me apetecesse.
gosto de me perder nestas coisas. de um disco novo, um livro velho, um filme ao acaso. ou então vice-versa e assim sucessivamente.
entedia-me aquela coisa arrumadinha de ansiar pela novidade, discutir a evolução do artista, ir ao cinema na estreia picar o ponto do bem informado.

mas, claro, hoje é o dia de herberto helder, das pessoas que lêem herberto helder todos os dias, conhecem-lhe os poemas de cor, respiram herberto helder. isso amanhã passa-lhes.

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