um dos temas mais debatidos nos fóruns de jornalistas por estes dias é o facto de a (quase) totalidade dos jornais de diversos países (eua, uk, espanha, pt...) não terem publicado cartoons do charlie hebdo na primeira página. o nyt, por exemplo, assume que não os publicou por os considerar ofensivos.
este ponto é muito interessante.
eu tb não publicaria cartoons do charlie na primeira página. aliás, não gosto do jornal. considero que o humor que utiliza é frequentemente de mau gosto. e que, por exemplo, mistura vida privada e vida pública para criticar políticos. e que nem sempre a abordagem que faz dos temas religiosos distingue claramente as legítimas (e inatacáveis) opções e convicções de cada um de uma 'utilização fraudulenta' da religião para fins violentos. [by the way]
considero que esses são temas discutíveis, i.e., passíveis de discussão.
o que não tem discussão é o direito do jornal a fazer o que entender, a publicar. se há alguma coisa a dirimir, que seja dirimido no quadro do estado de direito em que o jornal existe.

há um aspecto muito difícil de explicar a 'leigos': a ideia de que a liberdade de expressão é a mais ampla das liberdades, e que só assim ela faz sentido (excepção óbvia para o direito à vida).

4 comentários :

  1. "a liberdade de expressão é a mais ampla das liberdades, e que só assim ela faz sentido"
    Mas ampla a que ponto ? Ao ponto de extravasar o próprio código deontológico que os jornalistas encartados livremente subscrevem ?
    "o que não tem discussão é o direito do jornal a fazer o que entender, a publicar. se há alguma coisa a dirimir, que seja dirimido no quadro do estado de direito em que o jornal existe."
    Pois sim ! Mas não estaremos a entrar no campo do angelismo militante ? Acaso as condenações de jornais nos tribunais resolvem os assassinatos de carácter que os média promovem na praça da opinião pública ?
    Sou um leigo ! Esclareça-me !

    MRocha

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    1. A liberdade de expressão deve ter como único limite a Lei (o Código Deontológico é lei). Não pode ficar sujeita a limites circunstanciais, como o gosto, o "bom senso" e outras coisas vagas.
      A Lei, é óbvio, não resolve tudo. Um assassino é julgado e preso e quando sai pode voltar a matar. É a mesma coisa com os jornais...
      A vida em sociedade é isso mesmo - o convívio desconfortável com o Mal.
      É precisamente em nome de um mundo mais "justo", mais "bonito", que os terroristas são terroristas.

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    2. Caro jmf,

      Eu não defendo que a liberdade de expressão esteja sujeita a coisas vagas. Bastava-me que a redacção do jornal que assegura que "motorista de sócrates levava-lhe malas com dinheiro a Paris" mandasse o jornalista verificar a credibilidade da fonte. Quando a liberdade de expressão é utlizada de forma reiterada e objectiva para ofender e difamar como se numa sociedade livre isso fosse um direito, ela transforma-se num fundamentalismo tão pernicioso quanto outro qualquer. Mas isto é só o sentimento de um leigo, claro !

      MRocha

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  2. MRocha, até estaremos de acordo nesse aspecto e sobre esse caso...
    O problema é que ele encaixa exactamente naquilo que digo - é para resolver no quadro do estado de direito e pelas regras do estado de direito.
    Todos os dias saem notícias falsas no jornais, garanto-lhe. Mais ou menos graves, mais ou menos deliberadas. Mas é suposto o sistema (de contrabalanços) resolver esses problemas. É a democracia a funcionar, com todos os seus problemas. Mas, com dizia o outro, é ainda o melhor que se inventou.

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