um deputado da maioria foi a três sessões da comissão de inquérito ao caso bes e renegou toda uma vida: já não sou liberal.
dessa luz nasceu o debate. com muito ignorância à mistura - liberalismo económico vs político, europeu vs americano, neoliberalismo vs liberalismo -, mas a ignorância é atrevida e, helas!, o melhor álibi para um debate enviesado, como convém.

a crise económica e financeira, que começou em 2008, deixou claro:
- a ganância desmedida de alguns, especialmente das elites;
- o falhanço total do papel regulatório do Estado.

ambas as asserções corroem, à vez, as bases das teorias liberais.
a luz que o tal deputado diz ter visto será, então, verdadeira.

no entanto, este tipo de declarações tem de ser visto, necessariamente, à luz do ciclo eleitoral em que mergulhámos há meses.
o que o deputado está a dizer é que, também ele, quer mais estado, simplesmente porque acha que é isso que os eleitores querem. e é só isto que o deputado está a dizer.
muito por culpa da esquerda, os portugueses habituaram-se à ideia de que quanto mais estado melhor, em vez de defenderem um melhor estado social. exemplo disso são as tomadas de posição completamente incongruentes acerca, por exemplo, da pt e da tap (nada justifica a manutenção, ou regresso, dessas empresas ao sector empresarial do estado; haverá, isso sim, vantagem num sistema concorrencial com cadernos de encargos claros e exigentes e uma forte presença regulatória).

em suma. o deputado trabalha por objectivos (eleitorais); a imprensa e os intelectuais da sua área política fazem o seu papel, de centrar o debate na teoria do liberalismo e passar ao lado do essencial. a esquerda... ups, sei lá da esquerda.

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