uma das reuniões mais importantes foi aquela em que convencemos adriano (duarte rodrigues) (*) então director da faculdade, que a projecção do 'garganta funda', a meio da tarde, seria feita apenas para estudantes da fcsh. um inteligente jogo do gato e do rato: naquela altura, já se falava da pornex por todo o lado e o salão haveria de ficar a abarrotar de gente, com muitos estudantes de outras faculdades. mas adriano, especialista em media (*), fingiu que nós íamos vedar a entrada a estranhos e nós fingimos que íamos vedar. aprendia-se muito na faculdade, naqueles tempos.
a ideia tinha sido do rui, muito influenciado pelo alberto pimenta, e foram ambos protagonistas do evento. a coisa serviu também para afirmar a associação de estudantes, que tínhamos constituído muito recentemente, com gente de todos os cursos - por incrível que pareça, até havia pessoas de gravata na direcção.
é claro que tem uma certa graça que o rui coloque tudo na primeira pessoa, especialmente as conversas com o director - afinal de contas, todos temos que fazer pela vida, não é?

quanto ao que se passou recentemente com o ics e a fac dir coimbra, não deixa de ser uma surpresa, especialmente tendo em conta o tipo de instituições que praticaram o acto de censura (não tem outro nome).
durante muito tempo, admiti que salazar deixou marcas muito profundas, especialmente na cabeça das pessoas. mas tendo a rectificar e a ver salazar como mero epifenómeno de algo mais fundo. basta olhar para a nossa história, a mais longínqua e a mais próxima, e ficamos espantados com os raríssimos momentos de luz.

(*) Joaquim M. Nazareth

3 comentários :

  1. «durante muito tempo, admiti que salazar deixou marcas muito profundas, especialmente na cabeça das pessoas. mas tendo a rectificar e a ver salazar como mero epifenómeno de algo mais fundo. basta olhar para a nossa história, a mais longínqua e a mais próxima, e ficamos espantados com os raríssimos momentos de luz.»

    concordo consigo.

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  2. ó João, pode ser que a memória já me vá deixando à deriva, mas tenho a impressão que era o Nazareth (e que, com mais ou menos agrado pela coisa, se portou à altura das responsabilidades de um director de faculdade, enfrentando fúrias várias chegadas da 5 de Outubro e de outras vizinhanças).
    abraço
    cn

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  3. tens razão, carlos. era o nazareth. o adriano foi director uns anos mais tarde. recordo-me perfeitamente da reunião em que se discutiu o 'garganta funda', mas imaginava-a com o adriano... afinal, a minha memória está tão gasta como a do zink: ele imagina-se sozinho em reuniões, eu imagino interlocutores... e tens razão no que dizes: mesmo passados todos estes anos, uma iniciativa daquelas não seria possível em muitas instituições de ensino.
    abraço

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