O mundo mudou, mas a Economist não. É o que parece quando se lêem os artigos da revista que cruzam os interesses económicos com a actividade política. Se há lição muito evidente da crise que varre o mundo desde 2008 é que a economia foi longe de mais e que os Estados se demitiram frequentemente, a começar pela actividade regulatória.

É bom exemplo disso o artigo de capa desta semana, sobre uma iniciativa em discussão no Parlamento Europeu com vista a mitigar o poderio dos monopólios digitais (é, de facto, curioso que o mundo digital viva situações de monopólio em tantas áreas: Google, Facebook, Youtube, Spotify - é óbvio que há outras empresas, mas são anões ao pé de gigantes).

O texto da Economist tem pano para mangas, mas basta um exemplo para se perceber o tipo de falácia em que a revista cai.

Talvez o mais interessante seja a acusação de que o Parlamento Europeu está a legislar para... defender as empresas europeias. Esta tese, verdadeiramente espantosa, pretende ignorar que estamos, de facto, perante uma guerra geo-estratégica de carácter económico. Porque - entre outros factores - os tais monopólios só se instalaram porque foram enormemente fomentados e protegidos pelos vários poderes (político, económico, cultural...) americanos, perante a complacência dos poderes noutras áreas do Globo. Um parênteses para recordar que por detrás da aparente benevolência desses monopólios - que nos servem a todo instante tantos e tão bons serviços gratuitos -, há interesses que vão desde coisas tão práticas como a espionagem comercial e industrial a outras bem mais complexas, que podem envolver um controlo político à escala global.

Ou seja, a Economist acha que o Parlamento deveria defender a livre concorrência, quando as empresas europeias são descaradamente barradas nos EUA.

Enfim, este é apenas um exemplo dos múltiplos enviesamentos de que que padece o texto da revista. Verdade seja dita que eles até alertam para o facto de o presidente executivo da Google fazer também parte da administração da holding que detém a Economist...

Sem comentários :

Enviar um comentário