Na primeira semana como jornalista a sério, na Rádio Comercial de outras eras, disseram-me para ligar para Londres e pedir ao nosso correspondente uma peça de 1'15 sobre, muito provavelmente, qualquer coisa envolvendo Margareth Thatcher.
Obviamente, não recordo o tema nem os pormenores. Tenho, porém, a certeza de que recebi, via telefone, uma peça de 1'15 impecavelmente escrita, rigorosa, sóbria mas ágil, lida com aquela voz bem colocada e respiração correcta, que só na BBC se aprendia.
O Fernando de Sousa era assim: o mais fiável dos correspondentes. Ainda hoje penso que o meu apego à qualidade dos serviços públicos de rádio e tv se deve ao que naquela altura aprendi com o mister Sousa.
E também não sei se terá sido com os ingleses que o Fernando terá aperfeiçoado aquela fleuma e elegância de carácter que o distinguia.
Anos mais tarde, já no DN, o Fernando de Sousa era o correspondente em Bruxelas, mas na verdade funciona como enviado especial SOS a tudo o que mexesse, de Londres a Roma, de Paris a Moscovo. E, se fosse possível ir de carro, ainda melhor...
As últimas vezes que falámos, em Bruxelas, já estávamos em lados opostos da barricada. Nada que atrapalhasse o binómio característico do Sousa: profissionalismo e simpatia. Ele sabia tudo o que se passava na política de Lisboa, ao minuto e ao pormenor, mas nunca no seu trabalho transparecia qualquer preferência ou sequer vestígio de se ter deixado influenciar.
Esta manhã, um amigo comum comentava aquela ideia do Fernando de gostar de morrer a trabalhar, de preferência a meio de um directo. O bom humor, outra das suas características. Melhor que muitos, ele sabia que um jornalista nunca morre antes de fechar o serviço. Primeiro o directo, depois... que venha ela. Como hoje, em Milão.

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