o prós e contras, uma invenção de emídio rangel (embora com formato alterado), é um dos objectos mais absurdos da tv portuguesa.
a rtp, serviço público, deve ter um programa (ou mais), em que os temas centrais da nossa vida colectiva sejam analisados sob vários ângulos e em cujo debate se confrontem os vários interesses em jogo.
porém, o formato e o estilo de apresentação transformam o prós e contras em algo que ficará a meio caminho entre a conversa de um taxista no barbeiro e um torneio de cabeleireiras.

por motivos que não consigo identificar, as pessoas que normalmente acompanho no twitter vêem religiosamente o prós e contras. vêem e comentam. o prós e contras e, na verdade, tudo o que mexe na televisão.
mas o prós e contras vêem apenas para dizer mal. e conseguem estar a dizer mal, durante duas horas e tal, todas, mas mesmo todas as semanas.
são pessoas, algumas delas, nem todas, pelas quais tenho alguma estima, vá lá, intelectual. o que me dificulta a análise - aquelas pessoas não têm mais nada que fazer à segunda-feira à noite? que mecanismo de atracção pelo horror as levará a ficarem coladas à televisão tantas horas seguidas? coladas à televisão e ao computador, a twitar?

marcelo rebelo de sousa e miguel sousa tavares tinham previsto, nos comentários da semana passada, que antónio costa ganharia as eleições primárias no ps, mas por uma pequena margem.
erraram. e muito.
esta semana, reagiram exactamente com o mesmo argumento: talvez tenha sido o terceiro frente-a-frente que mudou a opinião das pessoas.
ora as pessoas, leia-se os simpatizantes (a maioria dos que votaram), inscreveram-se para votar precisamente porque já tinham uma opinião formada e queriam expressá-la.
a não ser que tivesse havido uma hecatombe, os debates não iriam mudar nada. não houve hecatombe e, com mais ou menos molho, ambos os candidatos estiveram dentro daquilo que deles se esperava.
mas, claro, mrs e mst não se conformam com a realidade, ou que a realidade interfira com o seu pensamento. vai daí, há que culpar a realidade por não se ter comportado da forma que eles previam.

as primárias do ps deram origem às mais desvairadas formas de debate televisivo, especialmente após os frente-a-frentes e na noite eleitoral.
tivemos de tudo: jornalistas puros, comentadores que não se sabe com que qualidade (em todos os sentidos...) falavam, jornalistas que não se sabe onde exercem profissão, políticos no activo, na reforma e na calha para sabe-se lá o quê... enfim, um desvario.
e tivemos isso tudo cruzado. ou seja, houve debates em que havia gente de todos os qualidades, numa algazarra em que o espectador menos esclarecido acaba literalmente enganado.
e convive-se com isto, como se isto fosse normal.

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