os palhaços. esse foi um dos motivos por que deixei de gostar do circo na idade em que se gosta de circo. os palhaços dos circos de província eram sempre palhaços muito tristes, não como na rábula, mas tristes mesmo. não tinham graça. diziam uns disparates sem nexo, faziam umas piruetas ainda com menos graça. não eram palhaços, eram uns palhaços.

como os humoristas portugueses. talvez o dito humorismo tenha acompanhado a falta de ambição do país, ou talvez mesmo a falta de graça do país. ou será simplesmente que o país deixou de ter graça?  ou - hipótese mais que plausível - será que o país tem graça até de mais e a graça, como os eucaliptos, seca tudo à volta?

ora a ver se me lembro. houve o herman josé, há muitos muitos anos, e depois houve os gato fedorento, durante muito pouco tempo, dos quais derivou um apesar de tudo ricardo araújo pereira, e houve ainda uns dois ou três momentos engraçados do bruno nogueira.

o resto tem sido um martírio sem graça. os palcos foram ocupados por uma malta nova, engraçada por natureza, mas engraçados por natureza somos quase todos nós. temos os nossos momentos. jovens que se multiplicam por tvs e espectáculos de stand up, colunas em jornais, programas de rádio. fazem pela vida, o que só lhes fica bem. repetem piadas azedas de velhas e, principalmente, disparatam. disparatar tornou-se um verbo de conjugação obrigatória, como obrigatório passou a ser o engraçadismo. a rádio - coitada, em crise por tudo e por nada - essa, então, está uma miséria. é impossível rodar o botão sem que de lá saia um engraçadinho. um não, porque eles normalmente andam em grupo.

o humor em portugal tornou-se uma actividade acessível a todos. basta fazer umas palermices, palhaçadas como o pobre palhaço, e está o dia ganho. e qualquer palermice é um sucesso, que torna a palermice ainda mais apetecível.

sal, uma coisa que a sic começou a dar há dias, é mais um exemplo disso a que, por conveniência, chamamos humor. um grupo de gente sem ideias, preguiçosa, sem ambição, aparentemente, mas só aparentemente, sem meios, tenta enganar-nos com uma série sem guião, sem piadas, sem actores de jeito, sem realização que se chame realização. nada, népia. há uns tempos, passou na rtp algo muito parecido e que, aliás, nem chegou ao fim - foi cancelado por ruim e má figura. mas a malta habitua-se, a fasquia desce e a rtp ainda há-de repor a palermice, visto que sal se encaminha a passos largos para a fama. pudera, os media e as redes sociais estão a abarrotar dos mesmos engraçadinhos que fazem estas "séries".

2 comentários :

  1. "há uns tempos, passou na rtp algo muito parecido e que, aliás, nem chegou ao fim - foi cancelado por ruim e má figura" - A que se refere? É que se for ao "Odisseia", nem este foi cancelado, nem cabe no mesmo pacote do que o "Sal"...

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  2. o odisseia foi anunciado como tendo 13 episódios quando estreou. ao de fim de algumas emissões com fraca audiência, mudou de horário e acabou no 8º episódio. os autores vieram dizer na altura que sempre estiveram previstos 8... na minha opinião, é exactamente o mesmo tipo de programa do sal. apercebi-me, entretanto, que está a ser repetido na rtp... à uma e tal da madrugada.

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