a polémica do acordo ortográfico nunca me comoveu.
verdade que o acordo é, essencialmente, uma solução para um problema que nunca existiu. sempre nos entendemos, os que falamos português.
é, aliás, muito interessante perceber como cada comunidade de utilizadores, por vezes dentro do mesmo país, reinventa esse património comum, sendo que a ortografia constitui apenas uma pequena parte da equação linguística (a sintaxe, a pronúncia, etc).
o acordo é, porém, um pequeno incidente na história da língua. a prazo, outros problemas se colocarão, o menor dos quais não será certamente o modo de integrar as formas coloquiais de escrita (as abreviaturas, os símbolos, as palavras estrangeiras), que obviamente vão saltar das redes sociais para a escola, para a literatura and so on, lol :)

mais que o acordo ortográfico interessa-me perceber e discutir a validade/perenidade das palavras. e até acharia graça à existência de uma comissão de sábios para o efeito.
dois exemplos:

decisão-coragem-filhadaputice.
os tempos recentes têm demonstrado, mesmo aos mais distraídos, que há uma crescente incerteza na utilização destes termos. claro que continua a haver coragem, simplesmente coragem, e há filhadaputice que é só filhadaputice. mas cada vez mais assistimos a uma confusão na utilização desses termos, sendo frequente vermos elogios à capacidade de decisão, ou à coragem, quando, na prática, o que se está a praticar é um acto de pura filhadaputice.
os futuros dicionários deveriam, pois, introduzir uma desambiguação destes termos. não resolve o problema, mas os mais ingénuos ficariam prevenidos. a não ser que a brecha ética em que estamos mergulhados não tenha vindo para ficar. não creio.

amor-desilusão.
aqui, a minha única dúvida é a formulação a adoptar pelos dicionários. "amor é um sentimento que tende frequentemente para desilusão", ou "amor é sempre um prelúdio da desilusão"? e, claro, todas as variantes intermédias. mais uma vez, em nome do esclarecimento dos mais incautos, a ciência linguística poderia assumir um papel importante. além do mais, evitava-se uma data de chatices.

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