Escrever é a segunda coisa de que mais gosto. Sendo que a primeira tem variado muito ao longo do tempo e muda várias vezes ao dia. São os prazeres, pequenos e grandes, e os ofícios, todos eles.
Já ganhei a vida a escrever, e continuo a escrever sem ganhar para viver. Gostaria, eventualmente - vá lá uma pessoa sensata ter certezas -, de escrever mais e, isso sim, melhor. Gostaria até de viver da escrita, já que sonhar não custa e esse, o sonho, é um ofício em que tenho vindo a tornar-me mestre. Parece-me.

Talvez porque a memória não seja o meu forte, embora tenha memórias fortes, fui sempre guardando muita coisa, especialmente papéis. E se arrependimento tenho - confessável, helas! - é de, em fases determinadas da minha vida, não ter guardado mais memórias. Papéis, mas especialmente memórias. Por exemplo, sei onde estava nos dias 11 e 12 de Março de 2011 e talvez consiga descrever cada uma dessas 48 horas. Mas há horas desses dias de que gostava de me recordar exactamente de cada minuto e há minutos dessas horas que tiveram 60 segundos bem contados. Não que não recorde o essencial, mas falha-me por vezes o pormenor.

Da escrita própria, guardei tudo.
E, agora que o tempo me é generoso, decidi passar alguns desses textos ao formato digital. Primeiro, porque sim, depois para tentar alguma sistematização, por último por vaidade, não vale negá-lo.
Criei para isso dois blogues, que actualizarei quando bem me apetecer, que apagarei quando e se quiser, porque este é um gesto que executo, antes de mais, para mim próprio (mesmo a tal vaidade tem mais de revisitação ao espelho da memória que demonstração pública do que quer que seja).

No blogue Av266 colocarei os textos de política, nacional e internacional. Nos quase 15 anos em que frequentei quase diariamente o Diário de Notícias, fui alimentando espaços de opinião e análise. São textos que fiz por prazer, mas também por dever - a grande maioria deriva das funções que fui desempenhando e, sem qualquer pretensiosismo, destinavam-se mais a marcar a posição do jornal do que a minha própria. Apesar disso, tentei fugir sempre à escrita mais institucional característica deste tipo de espaços.
O primeiro texto que publico, um pouco ao acaso, é sobre António Guterres, de que agora se volta a falar muito. Por isso e pelo tema mais genérico (o ódio em política), penso que resistiu bem ao tempo. Prometo tentar encontrar alguns que não.

O outro blogue -  Papel de Música - reúne escritos mais ligeiros, mas nos quais me empenhei igualmente. Começo exactamente pelo primeiro, parte de uma série (60, salvo erro) destinada às páginas de Verão de 1999, do Diário de Notícias. A série resultou de um improvável convite (haveria algo a escrever sobre isso, que não cabe neste texto), e acabou por abrir caminho a artigos publicados em todos os espaços de cultura e lazer do DN nos anos que se seguiram.

Curiosamente - facto de que só me dei conta quando estava a colocar os ficheiros nos blogues - quis o acaso que tenha escolhido textos de Julho de 1999 e Julho de 2001 para publicar em Julho de 2014. Tento não acreditar na magia das coincidências. Mas elas acontecem-me, até mesmo nas coisas pequenas.

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