Desperto por uma pequena (as palavras eram agrestes, o tema simplesmente ridículo) polémica no facebook, entre um crítico jovem e um jovem poeta, passei numa livraria e folheei o livro do jovem poeta. Para simplesmente confirmar que não gosto de jovens poetas. Falta-lhes a inocência que só a sabedoria da experiência traz. Aos jovens poetas aconselharia que se dediquem à arte de serem guerreiros, de serem amantes. E, claro, que escrevam poemas, muitos. Para que quando forem poetas, mas já não jovens, possa ler neles esse mundo que apenas pressinto.
*
De Manuel António Pina tinha um conhecimento de jornalista, superficial, portanto. Conhecia-lhe a literatura infantil e uns ecos distantes de amor ao Porto. Descobri-o na escrita diária da última página do JN, numa altura em que, no meu lado da barricada, o que escrevia era, a maior parte das vezes, injusto e irritante, mesmo que bem escrito. O que assinava tinha os habituais pressupostos ideológicos e um razoável desconhecimento de facto, tão comuns a quem escreve sobre política, que já só me obrigava a lê-lo por razões profissionais. Há muito pouco, dei com o poeta. Uma descoberta.
Perguntavas-me
(ou talvez não tenhas sido
tu, mas só a ti
naquele tempo eu ouvia)
porquê a poesia,
e não outra coisa qualquer:
a filosofia, o futebol, alguma mulher?
Eu não sabia
que a resposta estava
numa certa estrofe de
um certo poema de
Frei Luis de Léon que Poe
(acho que era Poe)
conhecia de cor,
em castelhano e tudo.
Porém se o soubesse
de pouco me teria
então servido, ou de nada.
Porque estavas inclinada
de um modo tão perfeito
sobre a mesa
e o meu coração batia
tão infundadamente no teu peito
sob a tua blusa acesa
que tudo o que soubesse não o saberia.
Hoje sei: escrevo
contra aquilo de que me lembro,
essa tarde parada, por exemplo.
Sem comentários :
Enviar um comentário