Beijo, o estado da arte

1. Movo-me num meio em que confluem dois rituais. Há quem se cumprimente com um beijo, quem o faça com dois. O embaraço faz já parte da rotina, e o que seria da vida social sem o embaraço, o melhor dos desbloqueadores de conversa e não só?
2. Mais hesitação que embaraço, na hora de trocar mails, o nirvana das relações laborais. Há mails funcionais, frios, sem cumprimentos. Mails com cumprimentos, mais ou menos cerimoniosos, mais ou menos mecânicos. E há mails com beijos, nas suas várias declinações. Acontece que a regra é flutuante, quanto à origem/alvo dos beijos, mas também no que respeita à situação. Por exemplo, será que o beijo ajuda a resolver o problema? Ou, pelo contrário, o beijo desvia a atenção do problema? Uma infinidade de dilemas.
3. Há, disso não restam dúvidas, uma banalização do beijo (e, já agora, do abraço). No SMS e no telefonema, mais que no mail. Conversa que se preze termina com o beijo (ou o abraço), mesmo com pessoas com quem não é suposto. Uma clara desvalorização do conceito.
4. O problema anterior conduz a um novo e peculiar embaraço. Como enviar um beijo, beijo a sério, intencional, quando se quer que assim seja, num tempo de mar de beijos sem sentido? Há quem atribua significados específicos às grafias, sejam elas o bj, o bjo, o bjs ou outras, e quem invente expressões próprias. A verdade é que há pessoas a quem não queremos enviar o "beijinho" - ah, o diminutivo... - superficial, mecânico.
5. Há ainda as ex, ou - pior - as ex would be, às quais a ideia de enviar beijos pode desencadear uma cadeia de acontecimentos inesperados. Para quem não gosta do inesperado pode ser um problema.
6. E depois há, é claro, o Nick Cave