Dan Brown, alias Clara

O lançamento de grandes filmes, livros, discos tem sido motivo para algumas das maiores operações de jornalismo de marketing de que há memória.
Seja através de reportagens pré-programadas a locais de filmagens ou históricas conexas, seja pela oferta de viagens e alojamentos com os mais variados pretextos, seja com entrevistas "exclusivas" realizadas em quartos de hotel na presença de mais dez jornalistas... a verdade é que os media, especialmente os de referência, são convidados a transformar cada lançamento comercial em notícia de grande impacto. São convidados, aceitam e executam com grande empenho.

Vem isto a propósito do texto que Clara Ferreira Alves assina no último Expresso, acerca do lançamento do último livro de Dan Brown, Inferno.
Obviamente, Dan Brown não fará parte das escolhas naturais de Clara. Mas, profissão oblige...
O dispositivo encontrado é curioso, embora nada inovador: Clara transforma-se em Dan e escreve uma carta de (auto)recomendação, a que nem falta a caução intelectual das referências a Dante.
Este estratagema resolve parte do problema: Clara poderá levantar-se de manhã, olhar-se ao espelho, fingir que é Dan Brown, e sair à rua de consciência tranquila, até que, mirando-se na  montra da esquina, volta de novo a ser Clara.
Já para o leitor do Expresso, nada fica resolvido, antes pelo contrário: um jornal de referência pode (talvez tenha a obrigação...) de tratar estes temas dos best sellers sem complexos de culpa (como é o caso), mas também sem cair em superioridades intelectuais irritantes.
Há um meio termo. Chama-se jornalismo. Mas dá trabalho.

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