out. at cellulite hotel, garden and spa.

Posso desligar-lhe o cérebro?

Derivado da crise política e económica (diria, antes, de valores, mas não vamos pôr-nos agora com coisas...), este ano não há silly season. Porque - helas, o lugar comum - silly anda isto a tempo inteiro, não precisando seasons para aparecer.

Mesmo assim, os jornais enchem-se de alegadas páginas de Verão. E eu gostaria de saber quem disse aos tipos (e tipas) que fazem os jornais que a malta desliga o cérebro  no Verão? É que as páginas de Verão, salvo muito intermitentes excepções, mais não são que um conjunto de palermices sem nexo - entrevistas falsas, coisas de ficção de gosto duvidoso, inquéritos patetas, páginas de social decadente, passatempos para débeis mentais...

No resto do ano, muitos jornais já tratam os seus leitores como perfeitos idiotas, escusavam de aperfeiçoar o conceito no Verão.

O Verão pode, de facto, ser aproveitado para abordagens diferentes, e até algum experimentalismo. Mas a ideia não é desligar o cérebro - ninguém compra um jornal para não pensar.

Há muitos anos, o Le Monde fazia excelentes seriados de Verão, alguns deles traduzidos em Portugal. E, ainda no capítulo da sazonabilidade, a Economist faz coisas muitos boas na edição de Natal/Ano Novo.

[um amor que sobreviva a todos os verões]

we can wait until the summer
see what happens to the other
we can stay inside all summer
see what happens to the other

Dan Brown, alias Clara

O lançamento de grandes filmes, livros, discos tem sido motivo para algumas das maiores operações de jornalismo de marketing de que há memória.
Seja através de reportagens pré-programadas a locais de filmagens ou históricas conexas, seja pela oferta de viagens e alojamentos com os mais variados pretextos, seja com entrevistas "exclusivas" realizadas em quartos de hotel na presença de mais dez jornalistas... a verdade é que os media, especialmente os de referência, são convidados a transformar cada lançamento comercial em notícia de grande impacto. São convidados, aceitam e executam com grande empenho.

Vem isto a propósito do texto que Clara Ferreira Alves assina no último Expresso, acerca do lançamento do último livro de Dan Brown, Inferno.
Obviamente, Dan Brown não fará parte das escolhas naturais de Clara. Mas, profissão oblige...
O dispositivo encontrado é curioso, embora nada inovador: Clara transforma-se em Dan e escreve uma carta de (auto)recomendação, a que nem falta a caução intelectual das referências a Dante.
Este estratagema resolve parte do problema: Clara poderá levantar-se de manhã, olhar-se ao espelho, fingir que é Dan Brown, e sair à rua de consciência tranquila, até que, mirando-se na  montra da esquina, volta de novo a ser Clara.
Já para o leitor do Expresso, nada fica resolvido, antes pelo contrário: um jornal de referência pode (talvez tenha a obrigação...) de tratar estes temas dos best sellers sem complexos de culpa (como é o caso), mas também sem cair em superioridades intelectuais irritantes.
Há um meio termo. Chama-se jornalismo. Mas dá trabalho.

Polémica, da boa


O estado do tempo

Miguel Sousa Tavares - tem dias, tem dias... - desceu do vértice do comentarismo sobre "a situação" para explicar a Clara de Sousa a vacuidade dos "estados do tempo" nas rádios e tvs.
Repetir que a temperatura máxima prevista ou registada é tal e coisa não significa nada: queremos saber a orientação e intensidade do vento, o estado da água, se arrefece de noite... Ou seja, gostávamos que os jornalistas e conexos se deixassem de lenga-lengas e dissessem algo útil, de facto, a quem os ouve.
É uma das coisas mais extraordinárias dos nossos dias: quase toda a informação, seja o tempo, o trânsito, o futebol, a economia (a Bolsa, meu Deus, a abrir e a fechar em alta, bla bla, bla...), a política, é reduzida a uma curto e circular vocabulário, quase encantatório de tão repetido, rotineiro, burocrático e, na prática, sem sentido, significado.
Há quem diga que é da falta de meios. Chamar-lhe-ia preguiça, mas não nos vamos zangar por tão pouco.

É claro que, uns minutos depois, Clara fechou o noticiário anunciando que a temperatura máxima amanhã vai ser de tal e coisa. Olhe, querida, beijinho também para si.

O que seria de mim, aqui em Marte, sem notícias da terra?

Ligo a televisão. Dizem-me que está calor. Mostram pessoas na praia. E dão bons conselhos: beba água e procure as sombras.

Balanço provisório

É cedo para contas de mercearia. Vai demorar muito até que percebamos que protagonistas perderam ou ganharam.
Para já, apenas uma certeza: mais um capítulo - e que capítulo! - no descrédito da política.


Pós-quê?

Uma das expressões mais intrigantes dos dias que correm é "pós-troika". Quererá dizer que a próxima pipa de massa será emprestada por um quarteto?

Um título





Este título, na edição de hoje do Diário Económico, no esplendor dos seus múltiplos segundos sentidos, é um dos retratos mais cruéis dos tempos que vivemos.

Espiar é espiar é espiar

Os europeus, tadinhos, pensavam que aqueles adidos das embaixadas americanas em Londres e Bruxelas faziam recortes do Le Monde e do Frankfurter Allgemeine. Afinal, parece que faziam (fazem) o seu trabalho: espiam. Pretender que, na era do digital e das redes sociais, esses meios estão imunes à devassa, é uma infantilidade. Os serviços de espionagem 'passeiam' agora por ai com o mesmo àvontade que antes liam cartas privadas ou ouviam conversas em cafés. Do que é que estavam à espera?

Google Reader



Às vezes, esquecemo-nos: as redes sociais são baseadas em tecnologia e 'know how' alheios, dos quais usufruímos quase sempre à borla. É claro que se estabelece um contrato não escrito, em que nos tornamos tacitamente dependentes uns dos outros. Exemplo, os detentores desses instrumentos vendem publicidade à nossa custa. Mas os laços existentes são, na verdadeira acepção da palavra, virtuais.
Hoje, o Google Reader acabou, já tínhamos sido avisados. Nos últimos anos, foi o meu mais fiel companheiro na Net - era com ele que lia jornais e blogues, que me mantinha informado. Com as novidades que todos os dias surgem nas redes sociais, o Reader mantinha-se firme e dava-me uma sensação de segurança. Acabou.
É claro que há umas semanas que já estou no Feedly. É uma das vantagens das redes sociais: até a mais profunda das relações pode ser instantaneamente trocada, sem dor, por outra relação igualmente profunda e prometedora. Ainda bem que 'cá fora' não é assim.

You didn't see me I was falling apart
I was a television version of a person with a broken heart
(...) 
I'm so surprised you want to dance with me now
I was just getting used to living life without you around
(...)

Quatro regras da comunicação (há outras)

1. A comunicação tem horror ao vazio.
2. A comunicação é insaciável.
3. A comunicação é auto-fágica.
4. As regras da comunicação interligam-se entre si através de adversativas.