[hoje, amanhã]

Y ya que sabemos además
que tampoco existen paraísos futuros,
no hay más remedio, entonces,
que ser el paraíso

Roberto Juarroz
citado por Eduardo Prado Coelho, Tudo O Que Não Escrevi

Canções para o resto da vida | Redux edit. 7

A nossa dimensão explica muito - não temos público suficiente para que certas indústrias culturais ganhem expressão. E nem vale a pena falar nessa miragem do espaço lusófono.
Mas sempre me pareceu que a dimensão não explica tudo. Há no nosso carácter, na nossa maneira de ser, algo que limita, censura, corta as asas. Que não deixa crescer.
Lembrei-me disto quando hoje revia um filme com banda sonora de Ludovico Einaudi. Interroguei-me se Rodrigo Leão ou António Pinho Vargas não poderiam ter escrito aquela banda sonora, se não poderiam actuar regularmente nas grandes salas de todo o mundo, se não poderiam ser distribuídos e promovidos internacionalmente por uma das majors.
Pelos vistos, não.
E é uma pena que a música de António Pinho Vargas não tenha o lugar que merece à escala planetária.


António Pinho Vargas
Dança dos Pássaros

Ainda a Newsweek

No derradeiro número impresso da Newsweek está, talvez, a resposta para a crise que assola a imprensa e da qual a revista americana é uma das mais simbólicas vítimas.
É uma edição rotineira, integralmente centrada nos 79 anos da publicação, ou melhor, nos seus sucessos e nas suas leituras do mundo. Até aqui, (quase) tudo bem - é natural que alguém que se despede faça um balanço da sua presença, não é expectável é que esse balanço, tratando-se de quem se trata, seja, digamos, tão burocrático.
Mas o que realmente desilude a sério nesta edição é precisamente essa opção radical pelo retrovisor, pelo passado. Tendo sido anunciado que a revista vai continuar, mas agora apenas em edição digital, o mínimo que se esperava era uma reflexão profunda sobre o estado actual do jornalismo e dos media (não é a mesma coisa) e uma perspectivação do que poderá ser o seu futuro a médio prazo.
Não, não se pede um exercício de umbiguismo mediático. Mas raramente surgirão momentos tão apropriados como este, em que se apaga um dos símbolos maiores do jornalismo e dos media.

Canções para o resto da vida | Redux edit. 6

Poucos grupos terão sido tão influentes na história da música pop-rock como os nova-iorquinos Velvet Underground (1964-1973). Não é por acaso que os seus discos (e não são muitos, se pusermos de parte algumas degenerescências) ainda hoje mantêm toda a frescura e força. Melhor, a cada audição atenta, dos seus discos e de tudo o que se lhes seguiu, ficamos com a convicção de que, sim, estavam muito à frente, eram francamente geniais, romperam fronteiras, estabeleceram paradigmas, etc, etc, etc.
A sombra protectora e inspiradora de Andy Warhol (1928-1987) terá sido decisiva, pelo ambiente de criatividade explosiva que gerou. Na banda, avultava a esfinge gélida de Nico (1938-1988), um fogo que ardeu lentamente até à extinção. E, claro, Lou Reed e John Cale, forças criativas por excelência, como as carreiras a solo se encarregariam de demonstrar.
Em 1990, Cale e Reed juntaram-se para gravar uma obra peculiar e extraordinária - Songs For Drella, uma homenagem sentida, à vez emocionada e distanciada, a Warhol.

Desse disco gosto particularmente da última canção.



Lou Reed / John Cale 
Hello It's Me



Clássica & Jazz

A Time Out Lisboa tem as melhores críticas de discos de jazz e clássica da imprensa portuguesa. Isto é bom para a Time Out e os seus leitores, mas é uma péssima constatação sobre a imprensa portuguesa.

Canções para o resto da vida | Redux edit. 5 [um postal de Natal]


Anne Sofie von Otter 
Like An Angel Passing Through My Room 
[original dos Abba]


Long awaited darkness falls
Casting shadows on the walls
In the twilight hour I am alone
Sitting near the fireplace, dying embers warm my face
In this peaceful solitude
All the outside world subdued
Everything comes back to me again
In the gloom
Like an angel passing through my room

Half awake and half in dreams
Seeing long forgotten scenes
So the present runs into the past
Now and then become entwined, playing games within my mind
Like the embers as they die
Love was one prolonged good-bye
And it all comes back to me tonight
In the gloom
Like an angel passing through my room

I close my eyes
And my twilight images go by
All too soon
Like an angel passing through my room

Lisboa tem novas paisagens


E chegámos a isto (2)

O DN - a avaliar pela edição online - precisou de 8 (oito!) jornalistas para desmascarar o burlão.

Eufemismos

Hoje, nada acaba. As coisas são "descontinuadas". Ou, como a Newsweek, deixam de ser publicadas. É bonita, esta aversão à morte. É feia, esta mentira jornalística.

E chegámos a isto

Num sistema mediático em que tudo é possível, como aquele que vigora actualmente em Portugal... tudo é possível.
Conferir:  
Esclarecimento sobre papel de Artur Baptista da Silva nas Nações Unidas
Português que se fez passar por coordenador da ONU pode ser um impostor

Rádio Nabokov

Na Star FM, uma menina com voz acabada de sair do Secundário apresenta todos os dias "os êxitos dos anos 50, 60 e 70".

Canções para o resto da vida | Redux edit. 4


Joni Mitchell 
A Case Of You 

Voltei a ouvir a canção no último disco de Ana Moura. E antes pela voz de Cristina Branco, k.d. lang...
É uma das mais inspiradas canções de sempre.

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Redux is a post- positive adjective meaning "brought back, restored" (from latin reducere, "to bring back")

Merry Xmas in Hell


As edições de Natal da Economist são preciosidades de coleccionador. Este ano, o Inferno na terra. Para quando um Heaven For Dummies?

As más notícias não olham a meios

O Linked In envia-me periodicamente actualizações dos perfis das pessoas com quem estou conectado. Sensatamente, aqui não se chamam "amigos"... Reparo que, nos últimos meses, muitas dessas pessoas actualizaram os perfis, introduzindo-lhe competências e experiência profissional. Na verdade, e isto é uma forma tão triste como outra qualquer de saber as novidades, isso corresponde quase sempre a uma nova situação de desemprego.

O Desastre. Agora na iconografia


Celebrar a Páscoa no Natal.
Ou, talvez, Judas no lugar de Jesus.

O arquitecto da nova América

 

A escolha dos melhores do ano, em qualquer área ou categoria, tem mais de wishful thinking do que de balanço. Escolhemos algo ou alguém na esperança de que dê certo, ou, em última instância, de que estejamos certos. Por isso, a escolha da Time - e o título da história, o arquitecto da nova América - faz todo o sentido.

feng-shui

No Corte Inglés, as revistas de psicologia estão junto das de lavores e gastronomia, as de filosofia agasalham-se com as de economia e gestão

Canções para o resto da vida | Redux edit. 3



Rodrigo Leão
Voltar

Há traços de tristeza em tudo o que é belo.
A obra de Rodrigo Leão é uma das mais expressivas reinterpretações da saudade.

No teu olhar se perde o meu
Também no mar se perde o céu

Grátis? Nem por isso

Agora é com o Instagram. Ciclicamente, há um clamor nas redes sociais porque as plataformas recordam o óbvio: também elas são detentoras dos direitos de autor do que nelas se publica. O espanto, verdadeiro espanto, é haver quem pense que, no mundo de hoje, alguém coloca alguma coisa à disposição de todos à borla.

kiss & tell [4]

O medo de desiludir, de decepcionar ou de falhar parece tornar-nos idiotas, fazendo-nos esquecer o que aprendemos com a experiência: não enfrentar aquilo que tememos faz-nos temê-lo ainda mais.

Nigella Lawson, Cozinha, o Coração da Casa, Lisboa, Civilização, 2010

Vouchers, trafulhas, parolos

O fundador de A Vida É Bela explica, em entrevista ao Expresso, que a falência da empresa foi motivada pela utilização dos produtos vendidos. Nos primeiros anos, e até 2009, cerca de metade dos vouchers vendidos acabavam por nunca ser utilizados.

Canções para o resto da vida | Redux edit. 2

 
Leonard Cohen  
Different Sides

Surpreendentemente, o mais recente disco de Leonard Cohen ('Old Ideas') surge muito bem colocado em várias listas de melhores do ano. Não sendo, de longe, um dos melhores discos de Cohen, nele confluem, no entanto, de forma depurada, as características que fazem deste canadiano uma das figuras mais marcantes da música contemporânea.
De 'Old Ideas' gosto muito, obviamente, dos primeiros versos:

I love to speak with Leonard 
He’s a sportsman and a shepherd 
He’s a lazy bastard
Living in a suit 

E gosto especialmente da última canção. O amor, entre a ternura e o humor:

We find ourselves on different sides
Of a line nobody drew
Though it all may be one in the higher eye
Down here where we live it is two


Both of us say there are laws to obey 
Yeah, but frankly I don’t like your tone 
You want to change the way I make love 
I want to leave it alone 

Tremendamente Cohen!

Editoriais

O problema dos editoriais anónimos nos jornais não é o serem anónimos. É o facto de, amiúde, os seus autores revelarem incultura e burrice, e, especialmente, não fazerem a mínima ideia do papel do jornalismo numa democracia. Por isso, não deveriam ser anónimos.

cat on a floyd roof

Nos últimos dias, eu e o meu gato temos estado a ouvir os primeiros discos dos Pink Floyd. Têm coisas geniais. Mas o meu gato diz que outras são de arrepiar.

eyes wide open

Acontece sempre que mudo de lentes: um mundo de cores mais vibrantes, excesso de brilho, uma leve sensação de photoshop. Um toque de miopia é essencial a pessoas de bom gosto.

Coisas afinal fáceis de entender

O direito ao "bom nome e reputação" (art.º 26) precede na Constituição a "liberdade de expressão" (art.º 37).

Canções para o resto da vida | Redux edit. 1

The Band  
The Last Waltz Theme

O último concerto dos The Band foi um daquele momentos mágicos em que tudo estava no sítio exacto. Nem um convidado a mais, nem uma ausência notada. Como num bailado, banda e convidados evoluiram durante mais de duas horas, interpretando aquelas canções como se sempre com elas tivessem convivido.
O momento foi captado por Martins Scorsese (1978), mas a memória vai toda para a edição em vinil, que começava com este instrumental e depois evoluía para o fabuloso 'Up On Cripple Creek'.
Irrepetível, claro.

aqui, que ninguém nos ouve

aquela lista de 50 discos que toda a gente devia ouvir que o Expresso publicou há dias é uma coisa assim um bocadinho, como hei-de dizer?

pontifex

O Papa no Twitter... Caso para mudar de paradigma: em vez de "já tem xxx seguidores", passamos a dizer "só ainda tem xxx seguidores".

e assim acontece

o chico, certeiro, sobre o facebook, os blogues, a internet, a besta humana.

hard times, indeed


[pub.]


A Visão (132 páginas) tem 17 páginas com anúncios a relógios.

old ideas die hard


No Facebook, o senhor Leonard Cohen informa-me que o seu disco 'Old Ideas' foi considerado o melhor do ano pela Uncut. Coisa que tem tanto de estranho como de confortável.