(...)

gosto do modo como agora usas o cabelo.

O meu outro heterónimo também é Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é

Lido numa revista de fotografia (mas podia ter sido num livro de filosofia)

Some of the most photogenic and dramatic lightning often comes before or after stormy, unsettled weather.

A felicidade em pacotinhos de quatro minutos

You can't start a fire without a spark, canta o Springsteen numa canção que não conheces. Atendo o telefone e do outro lado falam-me de uma paixão à procura de faísca. Acabamos a falar de política. Troco mensagens com pezinhos de lã. Olho para a paisagem que fica para trás a 208 quilómetros por hora. Pergunto porque não nos entendemos. Pergunto-me. Nos phones, os Camera Obscura cantam canções felizes e tristes. Tristes e felizes. Quatro minutos para cá, quatro minutos para lá.

Smoke on the Water

Cheguei a ter aulas de órgão eléctrico - recordo especialmente o odor peculiar do teclado - e o meu ídolo era o Jon Lord.

Jornalismo e ficção

Está a causar uma certa comoção a biografia em inglês do jornalista polaco Ryszard Kapuscinski (1932-2007). Conviveu (?) com grandes vultos e acontecimentos do século XX e granjeou fama, respeito, admiração. Diz-noz agora esta biografia que inventava parte substancial do que escrevia.

Quando, há umas décadas (!), comecei no jornalismo, um dos vultos do burgo mandou-me fazer um inquérito de rua sobre determinado tema e ficou espantado quando me levantei em direcção à porta. "Não precisas de sair - explicou - basta que inventes três personagens e coloques na boca deles aqui que consideras serem as ideias mais comuns sobre o assunto. Ninguém melhor que um jornalista para encenar opiniões sobre todos os temas. E assim ficas com a garantia de que tens gente a expressar um leque completo de opiniões".
Nunca mais me esqueci daquele ensinamento. Não o devo ter praticado - ainda hoje considero os inquéritos de rua uma perda de tempo, uma coisa preguiçosa, manipuladora, dispensável... Talvez que aquele "ensinamento" tenha contribuído para essa atitude.

A experiência - e se a tenho... - foi-me mostrando que todo o jornalismo é ficção. Como toda a construção humana é ficção. Tudo se resume ao ângulo, à intensidade, à honestidade. Não é que não haja apenas uma verdade - isso já sabemos há muito. Há é inúmeras maneiras de encenar cada uma dessas verdades, e cada vez aceitamos mais - e até gostamos - que nos contem essas "histórias" bem contadas.

Nos últimos anos - hoje - já não espero, nem peço, grande rigor aos media. Os grandes jornais, os grandes jornalistas, não são os que mais investigam, que tentam ir mais longe, que fazem tudo por uma história. Serão esses, mas também os outros, os que se limitam a embrulhar histórias a partir de agências. O que distingue os bons dos maus é a decência. Nos jornais, como na vida, de resto.

And the whole silly world going to pieces around us

[the first kiss] I'm not asking you to forgive me. I'll never understand or forgive myself. And if a bullet gets me, so help me, I'll laugh at myself for being an idiot. There's one thing I do know... and that is that I love you, Scarlett. In spite of you and me and the whole silly world going to pieces around us, I love you. Because we're alike. Bad lots, both of us. Selfish and shrewd. But able to look things in the eyes as we call them by their right names.

SBSR 2012

Pinheiros com Shins em fundo

Regina Spektor dentro de um ecrã, que está dentro de um ecrã, que está dentro de um ecrã

 O sub-woofer de Shrillex reflectido no fumo da erva filtrada pela luz

Os olhos de Biko. Oh oh oh Biko, Biko, because Biko 

A Lua por uma SuperBock

- Olha, o que andas a fazer com essa máquina?
- Não digas nada... fichas para a polícia.
- Eh malta, vamos tirar uma foto para a polícia.

My heart going boom boom boom

Hoje vai ser assim. Ou, presumo, melhor.

As cuecas brancas de Lana del Rey


Lana canta. Essa é  a maior evidência da passagem de Lana del Rey pelo Super Bock Super Rock. Não canta nem melhor nem pior que outras moças dos tops. E fuma. Durante as canções, com elegância, aparentemente inalando.
Lana del Rey é um dos maiores incómodos da pop recente. Talvez pelo manifesto equívoco com que se apresentou. Tudo em Lana parece remeter para territórios indie, alternativos, quando, bem vistas as coisas, aquilo é mais pop que outra coisa. Pop que evidentemente bebeu na indie e em coisas mais sofisticadas, naquele processo incessante de aglutinação e domesticação das vanguardas pela cultura mainstream.
No primeiro disco, Lana apresenta-se como alma torturada (Born to Die), mas alma em farrapos num corpo lindo, numa música de estúdio perfeita, num produção global toda ela muito certinha. Não bate a bota com a perdigota.
As apresentações do disco nas TV americanas não poderiam ter sido mais desastrosas e ainda hoje o Youtube é testemunha do espanto geral - a tal miúda gira de voz colocada não sabia, afinal, cantar.
Pois parece que sim, canta mesmo. QB.
Do Meco sobrevive a ideia de que a miúda tem potencial, mesmo cénico. É tudo muito estudado? Ah pois é. Mas não é sempre assim? Mesmo encenado, não deixou de surpreender o relacionamento muito próximo com o público. Se souber e puder crescer - e percebe-se a léguas que estamos perante alguém ainda verde, mas com vontade de - , é capaz de ir lá.
A presença descontraída em palco - uma descontracção estudada, feita para seduzir - fez com que a equipa de TV do recinto nos mostrasse, em dois fugazes momentos, as cuecas de Lana nos grandes ecrãs. São brancas!

(Ao contrário de Madonna, Lana não exibe as cuecas deliberadamente - ou não faz marketing a partir desse gesto. A exposição dessa intimidade não estava no programa, claramente, tendo antes resultado do puro acaso, de uma brisa mais excitada ou de um operador de câmera atento/atrevido. Essa exposição involuntária das cuecas é o toque naturalista que encaixa na perfeição - pelo efeito de legitimação - na artificialidade ostensiva da música e da presença de Lana.)

Na foto: outra perspectiva (no recinto, tivemos imagens frontais) das cuecas de Lana, por Rita Carmo, para a Blitz.

A noite passada o paredão ruiu

pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti, disse baixinho Olá
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então tu olhaste, depois sorriste
disseste 'inda bem que voltaste.
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